Carta aberta pra quem quer saber se dá mesmo pra ser amigo de ex

Carta aberta pra quem quer saber se dá mesmo pra ser amigo de ex

Um ano e meio depois de terminar um dos relacionamentos mais públicos da minha vida, eu ainda escuto: “O que você acha de tal atitude dele?” e “Vocês não vão voltar, mesmo?”, além do clássico “Aahhh!! Achava vocês dois tão lindos juntos!”. E, olha, vou contar: somos. Muito lindos. Eu sou gata, ele é gato. Fazíamos um ótimo casal e hoje somos ótimas companhias. E continuamos sendo lindos. O “Aahhh!!” é completamente facultativo nesta sentença.

Mas ninguém sabe lidar com término. E eu não tô falando de mim, nem dele. A gente tá de boa faz muito tempo. Eu tô falando de quem tá do lado de fora. De quem enxerga o relacionamento (que era a dois, e fechado) e opina tanto que se sente no direito de sofrer no nosso lugar. De colocar suas opiniões em pauta como se fossem válidas ou, no mínimo, solicitadas. Que equívoco: nunca houve um grande problema entre nós. Relacionamentos acabam, vidas seguem.

E os dias servem pra enchermos as horas com trabalhos que nos alegrem, companhias que nos encantem, beijos que nos deem frio na barriga e momentos que nos arrepiem a espinha. E pessoas conhecem outras pessoas. A vida continua de um jeito tão lindo que não dá tempo de gastar energia com ladainhas melindrosas. Você acha que sobra espaço nisso tudo pra fazer intriga com alguém? Não dá nem tempo de procurar outra roda pra brindar: vai ali, mesmo, com aquela pessoa com quem já dividiu tanta coisa. Ainda é o mesmo cara, ainda é a mesma mina. Um pouco mais vividos, talvez com um corte de cabelo diferente, com certeza com novas gírias e cacoetes, mas, veja bem: ainda é a mesma pessoa. A vida é muito curta pra se preocupar com isso, pra não aproveitar uma boa companhia só porque um formato não funcionou.

A vida tem espaço pra me preocupar com quem vai acordar comigo de manhã em qualquer lugar, pra escolher brindar aqui ou lá, pra conhecer gente que vai me encantar, me irritar, me surpreender, me fazer ter vontade de matar e morrer de amor. E tem espaço pra sofrimento também, pra quebrar a cara, pra conhecer várias pessoas erradas e ser a pessoa errada de vez em quando; pra cometer os mesmos erros mais uma vez, só pra garantir.

Só não tem espaço pra mimimi.

Nem pra quem faz muito esforço pra criar intriga, falar asneira, jogar verde tentando colher madura qualquer informação sobre o que lhe desperta curiosidade. A vida não tem espaço pra não ser amigo de ex, pra não continuar trocando ideia com quem fez parte da sua vida — e muito menos tem espaço pra quem tá louco pra ver o circo pegar fogo. Se bem que, vou te falar: do jeito que nós dois continuamos sendo completamente doidos, se botarem no fogo no nosso circo, vamos acabar dançando.

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A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.